Introdução e tradução: Marcela Ferreira – Tema: Entrevista Airto Fogo – We Go Funk Magazin, 2012
“Por detrás de cada disco encontramos uma estória pra contar”, é o que diz todos os colecionadores de discos. Portanto o disco do Airto Fogo não seria diferente.
Outro dia um amigo, conhecedor de muitas estórias que ocorre nesse mundão da música, como essa que vamos ler, me chamou atenção para essa peculiaridade do disco do Airto Fogo. E confesso que é bastante interessante.
Parece-me que qualquer bom fã de jazz funk teve a oportunidade, na sua procura de pepitas, de se deparar com o nome e a cara de Airto Fogo. O disco com uma capa branca, um nome estilizado em letras grandes e a foto de um tipo enigmático, reproduzida em quatro vinhetas.
Uma data: 1976 e o nome do estúdio Davout são os únicos créditos mencionados. Mas então, quem é esse Airto Fogo? De tez bronzeada, escondida atrás dos óculos ruivos e da barba grande que usa com elegância? Como um Albert Spaggiari do funk, Fogo lança incríveis grooves mas permanece escondido.
Talvez por se tratar de um disco bastante obscuro assim como o autor da obra, e tudo em sua volta; as estórias perpetuaram por anos até conhecermos a verdade. Mas és que em Março de 2012, Sylvain Krief, um grande músico e compositor francês, deu uma entrevista para a Revista francesa, We Go Funk e que nos esclareceu muitas “verdades” sobre a real identidade do Airto Fogo.
Houve boatos de que o Airto Fogo era o pseudônimo do Mestre Walter Branco. Branco foi um grande compositor e maestro brasileiro nascido no Sul do Brasil, mais precisamente em Paranaguá, PR e veio a falecer em 2018.
Assim como eu, deve ter muitos de nós, que se quer questiona a veracidade dessa estória. Mas já que nosso amigo nos deu essa luz sobre o assunto, vamos dá fim ao obscurantismo. Seguimos a leitura e saberemos o que diz Sylvain Krief, que conhece bem a estória do Airto Fogo.
Un peu de Fogo dans les oreilles ! Um pouco de Fogo nos ouvidos
Entrevista para We Go Funk
WGF: Em 1976 você gravou o álbum Airto Fogo. Onde está sua carreira musical neste momento?
SK: Naquela época, eu tocava muito Jazz em clubes (Club Saint-Germain, Bilboquet, le Sabot de Bernard, etc.); tocava muito música brasileira e acompanhava cantores como Nicole Croisille, Michel Fugain e o Big Bazaar e muitos outros outros que minha memória agora rejeita a lembrança. Na verdade, estava trabalhando muito. Michel Fugain me pediu para escrever uma peça para um balé. Daí nasceram “Jungle Bird” e “Black Soul” em 45 rpm que foram integrados ao álbum ao vivo no Olympia. O sucesso foi imediato. Então decidi gravar o álbum LP. Juntei os músicos com quem tocava na época e o álbum nasceu.
WGF: Quem foram os músicos que participaram desse disco?
S.K .: Bateria: Sylvain Krief também conhecido como Airto Fogo / Baixo: Gilles Papiri / Piano, teclados, sintetizador: Michel Coeuriot / Percussões: Jean Shulteiss / Trompete: Kako Bessot / Saxofone 😕 / Trombone: Christian Guizien.
Arranjos de metal: Michel Coeuriot. Engenheiro de som: Claude Hermelin. Masterização: Claude Hermelin. “Há apenas 3 instrumentos de sopro tocando, mas parece que há 8 ou 10″
WGF: Todos os arranjos de metais foram escritos por Michel Coeuriot e ele também toca todos os teclados do álbum. Conte-nos sobre seu papel na produção do álbum.
S.K.: Michel Coeuriot é um músico excepcional com quem tive o privilégio de tocar regularmente e me ofereci para escrever os arranjos de metais, o que muito contribuiu para o sucesso deste disco. O seu imenso talento como arranjador tem permitido a este álbum ser o que é e também passar o tempo sem rugas.
WGF: Que influências musicais o levaram a fazer esse álbum?
S.K.: Earth Wind and Fire, Chicago, Blood Sweat and Tears, Herbie Hancok e muitos mais!
WGF: O disco foi gravado no estúdio Davout, que já viu um grande número de estrelas da música de todos os estilos. E Como você se encontrou neste prestigioso estúdio parisiense?
Eu toquei muitas vezes neste estúdio que era “O” estúdio na época. Mas também, graças a Yves Chamberland, o proprietário; podemos gravar lá com tranqüilidade levando todo o tempo necessário para a feitura. Esta é a razão pela qual este álbum faz tanto sucesso.
WGF: Ouvindo o disco, você quer acreditar que a gravação foi moleza. Como foram as sessões?
S.K.: Foi muito divertido. Gravamos os ritmos primeiro e depois os metais, que duplicamos com um pouco de phasing. Na verdade, há apenas 3 instrumentos de sopro tocando, mas parece que há 8 ou 10.
Airto Moreira + Botafogo = Airto Fogo
WGF: A falta de crédito na capa contribuiu muito para a gênese do mistério que cerca este álbum. Por que você foi tão discreto? Foi voluntário?
S.K.: Não, mas gravamos esse álbum para nos divertir e na época nada importava. Sinto um pouco, isso teria evitado muito plágio!

WGF: Por que você escolheu o pseudônimo de Airto Fogo?
S.K.: Eu era então um fã incondicional da música brasileira (também era muito conhecido como baterista desta especialidade) e um verdadeiro fã de Airto Moreira, um percussionista brasileiro.
Até que fui ao Sacem registrar o nome Airto e Botafogo, que é um clube de futebol brasileiro. Infelizmente o nome já tinham cadastrado, então tirei o Bota e o Fogo ficou!
Os títulos deste álbum são gravados na Sacem em meu nome e dos outros compositores.
WGF: Hoje o disco de Airto Fogo é um mito para muitos colecionadores de LP. O que você acha dessa mania? O álbum foi bem sucedido quando foi lançado?
S.K.: O álbum foi um enorme sucesso no Canadá, foi até número 1 na rádio CHUM, mas não o suficiente na França. Então, aos poucos, ele se tornou o que conhecemos. Estranhamente, só descobri há cerca de 4 ou 5 anos. “Nunca recebi royalties ou direitos autorais”
WGF: Muitos rumores circulam sobre a identidade de Airto Fogo. Tem ligações com o músico brasileiro Walter Branco. Nós até lemos que Michel Fugain estava se escondendo atrás do pseudônimo. Você estava ciente dos rumores dele? Como você experimentou isso?
Estou surpreso com isso. Walter Branco não precisa desse tipo de publicidade, prefiro pensar nisso como boato. Dito isso, acho isso terrível.
É muito fácil obter informações na Sacem. Os títulos ficam gravados em meu nome ou em nome de quem os escreveu, além do nome Airto Fogo. Alguns jornalistas brasileiros me escreveram fazendo essa pergunta e acho que agora tudo está claro na mente dos fãs de funky!
WGF: O álbum foi relançado desde seu lançamento. Você foi contatado para cada uma das reedições? Eles são todos oficiais?
Nenhuma reedição é oficial. Nunca recebi royalties ou direitos autorais, ainda é inacreditável!
“Jungle Bird” e “Black Soul” foram apresentados no álbum “LIVE 76” de Michel Fugain e Big Bazar, que vendeu centenas de milhares de cópias. Este álbum (Airto Fogo), também vendeu centenas de milhares de cópias em todo o mundo durante 30 anos. Estranho mesmo assim, porque nunca toquei em dinheiro nenhum! Mas estou trabalhando nisso e todos os que estiveram envolvidos nessa gravação serão, espero um dia, compensados.
WGF: Quais são seus planos para o futuro? Podemos esperar ouvir novas produções de Airto Fogo?
S.K.: Estou escrevendo e me preparando para lançar um novo CD com o mesmo som e espírito musical. (WGF: Álbum Airto Fogo será relançado no Japão).
Bateria: Sylvain Krief, também conhecido como Airto Fogo
Baixo: Gilles Papiri
Piano, teclados, sintetizador: Michel Coeuriot
Percussões: Jean Shulteiss
Trombeta: Kako Bessot
Saxofone: ?
Trombone: Christian Guizien.
Arranjos de latão: Michel Coeuriot.
Engenheiro de som: Claude Hermelin.
Masterização: Claude Hermelin.
Gravado no Studio Davout Paris em 1976.
Entrevista realizada: 20 Março 2012 –

Curtiu a entrevista? Se quiser ler o texto original em francês, clica AQUI e o link te leva para a página da We Go Funk Magazin
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